A Cobra e o Lagarto
Era uma vez,
uma Cobra Malhada e um Lagarto Pintado.Ambos partilhavam o mesmo carreiro para
atravessarem da zona dos silvados para irem á horta do «Tio José».
O Ti Zé já tinha assistido a várias escaramuças entre
eles, pois de há muito sabia que cobra e lagarto não se podem ver e existe
entre eles uma raiva de morte um pelo
outro.
Naquele dia
ficou muito preocupado, pois olhando para o carril poeirento, viu o rasto das
patas do Lagarto e o ondulado deixado pela Cobra.
Deduziu de
imediato, que ambos estavam a usar o mesmo trilho e mais tarde ou mais cedo iam
encontrar-se se seria uma desgraça.
Para evitar
que eles se matassem um ao outro, um dia esperou pelo Cobra para lhe falar.
Era uma
cobra bem lustrosa e bem tratada, media perto de um metro de comprimento, era
acinzentada de listas castanhas e tinha uns olhos que brilhavam como dois
diamantes.
Quando a
cobra saiu de traz do Marmeleiro, mandou-a parar e falou com ela dizendo:
- Cobra Malhada,
gosto muito de ti e gosto que passes pela minha horta, sei que apanhas os ratos
que andam por lá a roer as minhas batatas, mas aconselho a que não passes por
este carreiro, pois também passa por aqui o Lagarto Pintado, que é muito mau e
pode dar cabo de ti.
A cobra não
gostou e retorquiu:
-Isso é que
era bom!….ele que experimente a enfrentar-me, vai ver que nunca mais come escaravelhos.
Mas o dono
da horta insiste:
-Olha que é
melhor um acordo que uma boa guerra,
eu sei que dum confronto entre vocês, poderá resultar
uma desgraça para ambos e eu preciso do Lagarto Pintado para comer os
escaravelhos que infestam a minha horta, e de ti para que os ratos não me comam
as batatas-doces.
A cobra
foi-se embora sem dar mais resposta e o Ti Zé ,
apreensivo ,foi dar uma volta pela horta é procura do lagarto.
Encontrou-o
refastelado ao Sol, num carril poeirento
que conduzia até á nora.
Era um belo
exemplar, tinha perto de 40 cm de comprimento, estava gordo pois tinha comida
com fartura naquela horta.
Como tinha
mudado de pele há pouco tempo estava verde com pintas pretas, amarelas e azuis,
de olhos grandes e brilhantes.
O Ti Zé , aproxima-se e começa falar com ele:
-Lagarto Pintado,
tenho muito gosto de te ver por aqui, vejo que estás gordo e tens a barriga
cheia de escaravelhos.
O lagarto
espreguiça-se, levanta o pescoço abriu a sua grande boca que até deixava ver o
rosado do fundo da garganta e diz:
- E eu
também gosto muito de passear pela tua horta, aqui há de tudo, borboletas
pachorrentas que se deixam apanhar, joaninhas distraídas e escaravelhos preguiçosos,
que só servem para te roer as ramas das
batateiras, mas vou dando conta deles todos.
- Muito
bem, continua o Ti Zé, mas tenho uma recomendação a fazer-te.
Eu sei que
passas pelo mesmo carreiro que a Cobra Malhada, e isso pode dar problemas, pois
eu sei da raiva que existe entre as vossas famílias.
O lagarto
não se fez esperar e responde:
-Ela que
não se atreva a cruzar-se comigo, pois esmago-lhe a cabeça em menos de nada.
O Ti Zé ...homem experiente e de bom senso, continua:
-Lagarto
Pintado, pensa bem no que te digo. A horta é grande e o «carreiro dos silvados»
também, tu bem sabes que tem um Marmeleiro a meio, onde passaste ainda hoje.
Aconselho-te a que passes pelo lado sul do Marmeleiro
e deixando o caminho livre para a Cobra Malhada do lado norte.
O lagarto
dando ao rabo, riu-se do Ti Zé, e sem lhe prestar mais atenção foi-se embora
sem mais conversa.
Passados
algumas semanas, á hora da sesta , hora em que estava muito calor, o Ti Zé ,lembrou-se que é nestas horas de calor que as
cobras e lagartos gostam de passear e resolveu também ele ir até á horta ver o que passava por lá.
Seguia pelo carreiro habitual,e olhando ao
longe, avista um vulto estranho no
trilho empoeirado, que parecia um novelo de corda.
De imediato
teve um mau pressentimento e apressou o passo para ver o que era aquele
misterioso vulto.
Ao chegar
junto do Marmeleiro, viu que era a Cobra Malhada toda feita num novelo, não se
descobrindo onde tinha a cabeça.
Na
esperança de salvar a situação que temia, começou a desenrolar a Cobra
puxando-a com jeito, mas á medida que desenrolava a cobra foi descobrindo o
corpo do Lagarto Pintado que estava no meio do novelo.
Desconsolado,
verifica que ambos tinham já morrido …a cobra morreu asfixiada com a cabeça dentro da boca do lagarto e este não resistiu ao esmagamento a que foi
sujeito pelo aperto da cobra em volta de seu corpo ,morreu também.
Moral da
história:
Nunca se
deve desprezar uma proposta de acordo em situações de antagonismos profundo.
É sempre preferível um acordo, ainda que não
seja o ideal, a uma guerra cujos resultados são sempre imprevisíveis, quantas
vezes fatais para ambos os contendores, como
aconteceu nesta história verdadeira, pois esta cena foi presenciada por
quem acabou de a contar
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António Feliciano
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